68º Congresso Brasileiro de Coloproctologia

Dados do Trabalho


Título

PROCTITE INFECCIOSA POR CLAMIDIA COMO DIAGNOSTICO DIFERENCIAL DE DOENÇA INFLAMATORIA INTESTINAL - RELATO DE CASO.

Objetivo(s)

Descrever um caso atípico de uma paciente com proctite infecciosa simulando quadro clínico de uma Retocolite Ulcerativa (RCU).

Descrição do caso

Paciente feminina, 36 anos, sem comorbidades prévias. Atendida em consultório particular na cidade do Rio de Janeiro em 2018 com queixa de proctalgia, mucorréia, retorragia e hematoquezia, de início há 3 meses. Nega antecedentes de trauma, cirurgias prévias ou alergias medicamentosas. Foi avaliada por gastroenterologista e feito diagnóstico de RCU, sendo prescrito mesacol oral e supositório. Evoluiu com melhora parcial dos sintomas negando diarreia, vômitos ou febre. Colonoscopia mostrou uma ileíte ulcerada inespecífica, com pólipos sésseis de cólon e o histopatológico acusou adenoma tubular de baixo grau, além de ileíte crônica ulcerada com hiperplasia nodular linfóide, leve atrofia e exígua fibrose. Exame repetido em 8 meses mostrou relativa regressão, mas com processo ulcerado em margem anal interna e alterações inflamatórias mínimas, corroborando RCU. Foi encaminhada ao Coloproctologista para nova avaliação. Realizado colposcopia anal que evidenciou mucosa retal hiperemiada com áreas de edema e friabilidade, muco e secreção purulenta. Colhido PCR para Clamídia e Gonococo, confirmando proctite por Chlamydia trachomatis (CT); Demais sorologias foram negativas. Feito doxiciclina por 14 dias e ceftriaxone, com regressão completa dos sintomas. Nova colposcopia em 15 dias evidenciou importante recuperação da mucosa intestinal, sem sinais de infecção. Segue em bom estado geral e assintomática com retorno agendado para 30 dias.

Discussão e Conclusão(ões)

A infecção pela CT é cada vez mais comum, principalmente entre Homens que fazem Sexo com Homens (HSH) portadores do HIV. Segundo a literatura, mais de 70% destes coinfectados estão em países na Europa. A bactéria manifesta-se com cervicite, uretrite ou mantém-se assintomática, no entanto em HSH com comportamento sexual anal pode causar proctite, com tenesmo, hematoquezia e mucorréia, simulando a clínica das doenças inflamatórias intestinais (DII), como a RCU que foi a principal hipótese do presente caso. A proctite provocada pela CT é pouco comum em heterosssexuais e mulheres, existindo poucos relatos na literatura, o que reitera a confusão diagnóstica. No sexo feminino, o diagnóstico tende a ser dificultado, assim como descrito neste relato, pois é necessário investigar as práticas sexuais da doente. A história clínica deve detalhar a exposição sexual anal sem proteção e levantar, assim, a hipótese de proctite infecciosa, utilizando a PCR como uma importante ferramenta para elucidação desses casos.
A infecção anal pela CT permanece como um desafio aos proctologistas ao simular as DII, principalmente no sexo feminino. Embora seja um atípico diagnóstico diferencial das doenças proctológicas, deve ser lembrada durante a investigação e a suspeita de RCU pela gravidade evolutiva dos casos que tornam o desfecho ainda mais desafiador.

Área

Doenças Infecciosas

Autores

Alexandre Ubirajara Marques, Maria Roberta Meneguetti Seravali Ramos, Antônio Carlos Miranda, Marcello Di Blasi Franchini, Dina Martins Rodrigues de Souza, Leonardo Fernandes Valentim, Rivelino Trindade de Azevedo, Beatriz Nunes Moreira