68º Congresso Brasileiro de Coloproctologia

Dados do Trabalho


Título

BLEFAROCONJUNTIVITE NAO INFECCIOSA INDUZIDA POR ANTI-TNF EM PACIENTE COM DOENÇA DE CROHN

Objetivo(s)

Relatar o caso de um paciente com doença de Crohn com reação ocular ao uso de infliximabe

Descrição do caso

Paciente do sexo feminino, 51 anos, tabagista, portadora de doença de Crohn (DC) estenosante e fistulizante, com sintomas intestinais iniciados em 2012 e diagnosticada em 2015, quando foi submetida a colectomia total + ileoretoanastomose + histerectomia + lise de múltiplas aderências e anatomopatológico (AP) revelou colite crônica ulcerada com perfuração, estenose, trajeto fistuloso na parede abdominal e aderências entre alças intestinais, útero e tuba uterina direita. Iniciou infliximabe (IFX) 30 dias após a cirurgia para profilaxia da recorrência. Há cerca de 1 ano, os olhos ficaram hiperemiados, com piora após 4 meses de otimização do IFX, apresentando baixa acuidade visual (AV) e hiperemia progressivas, prurido, fotofobia e dor ao redor de ambos os olhos. As alterações encontradas na avaliação oftalmológica foram: AV de 20/40, córnea com ceratite puntata, edema palpebral 1+, diminuição de cílios, hiperemia conjuntival 2+ difusa e blefarite. Break up time de 2s bilateral. Mácula seca em fundo de olho. Prescrito dexametasona colírio, lubrificante e regencel®. Após decisão multidisciplinar, optado por suspensão do IFX, com melhora ocular progressiva, porém com piora dos sintomas intestinais: dor abdominal frequente, fezes diarreicas 12x/dia, com sangue eventual. Em julho de 2019 fez retosigmoidoscopia (RTS): mucosa com hiperemia, edema, friabilidade até 12cm da borda anal e AP: ileíte crônica com infiltrado inflamatório crônico (IIC) com raros neutrófilos e mucosa retal com IIC moderado inespecífico e calprotectina fecal de 605 mg/kg.

Discussão e Conclusão(ões)

A DC é uma doença inflamatória intestinal (DII) e pode acometer outros órgãos. O envolvimento ocular como manifestação extra-intestinal (MEI) ocorre em aproximadamente 12% dos casos, sendo mais comum na DC e apresenta-se como uveíte, episclerite, esclerite, conjuntivite folicular e raramente como úlceras marginais da conjutiva ou palpebral, durante doença ativa ou inativa. Os anti-TNF-α são cada vez mais utilizados para o tratamento de DII e vários eventos adversos têm sido relatados, como: infecção oportunista, malignidade e fenômenos auto-imunes induzido pela droga. Apesar dos anti- TNF-α serem indicados para tratar uveíte, esta reação ocular tem sido descrita como efeito adverso, pois o anti- TNF-α periférico pode aumentar a reatividade das células T e causar inflamação no olho. No presente caso, após a suspensão da terapia, houve resolução progressiva dos sintomas oculares, a despeito da piora dos sintomas intestinais, confirmando tratar-se de reação secundária à droga e não a hipótese de MEI da doença. O diagnóstico diferencial das manifestações oculares na DII representa um desafio clínico, exigindo a exclusão de causas infecciosas e eventos adversos relacionados aos medicamentos, antes de classificarmos estas alterações como MEI da DII. Equipe multidisciplinar é essencial no manejo terapêutico destes pacientes.

Área

Doenças Inflamatórias Intestinais

Autores

Aline Pozzebon Gonçalves, Natália Sousa Freitas Queiroz, Carlos Walter Sobrado, Carolina Bortolozzo Graciolli Facanali, Lucas Rodrigues Boarini, Vivian Regina Guzela, Sérgio Carlos Nahas, Ivan Cecconello