68º Congresso Brasileiro de Coloproctologia

Dados do Trabalho


Título

O CEC do ânus na doença de Crohn

Objetivo(s)

Descrever um caso clínico evolutivo para carcinoma epidermóide de paciente com diagnóstico de doença de Crohn, e desta forma, esclarecer a importância em manter a vigilância do exame físico proctológico na doença perineal

Descrição do caso

Paciente sexo feminino, 56 anos, com diagnóstico clínico, laboratorial, endoscópico e tomográfico de doença de Crohn há 14 anos, sem medicação no momento, porém com uso prévio de terapia biológica, evolui há 6 meses com dor e sangramento anal, e aumento do número de evacuações.
Antecedente de vulvectomia por carcinoma epidermóide de vulva em 2004 e ileocolectomia por doença fibroestenosante em 2016. Tabagista e etilista.

Ao exame proctológico sob anestesia, na inspeção presença de úlcera com bordas elevadas e fundo avermelhado em região póstero lateral direita de aproximadamente 4x2 cm que se estende da margem anal até 1 cm da linha pectínea. Toque retal revela lesão infiltrativa, realizada biópsias.
Resultado histopatológico de carcinoma epidermóide de canal anal, optado por quimioterapia e radioterapia (5400cGy + 5Flu + cisplatina). Apresentando resposta completa sem lesão ao exame proctológico, permanece em acompanhamento ambulatorial trimestral, realizando exame físico detalhado e exame de imagem seriado.

Discussão e Conclusão(ões)

Segundo a última revisão de carcinoma de células escamosas (CEC) na doença inflamatória intestinal (DII), a neoplasia é rara e tem predileção para a doença de Crohn (DC) em relação a retocolite ulcerativa (RCU). Sua incidência é de 0,02 casos por 1000 pacientes no ano, mais em mulheres e em uma média de 42 anos de idade. A maioria apresentam mais de 10 anos de doença, e cerca de 85% tem doença perineal adjacente. Dados semelhantes com o relato clínico apresentado, e com os diversos estudos atuais sobre o tema.
Um conjunto de fatores podem ter contribuição pra o desenvolvimento do CEC na doença de Crohn, tais como, a presença do HPV, a inflamação crônica, a diminuição da defesa e ainda a imunossupressão por fármacos. Nos pacientes com doença perineal fistulizante, a violação da mucosa e epitelização das fístulas pode dar acesso direto ao HPV nos queratinócitos e então desenvolver a proliferação celular desorganizada.

O tratamento baseia-se em radioterapia e quimioterapia combinada, reservando a amputação abdomino perineal do reto para os casos não toleráveis à radioterapia por complicação perineal ou de persistência e recidiva de lesão. No presente caso, a paciente foi tratada convencionalmente conforme as indicações dos estudos mais atuais e não apresentou complicação local. No seguimento, a evolução foi favorável e não houve persistência de lesão. A taxa de sobrevida em cinco anos é de 37%, o que demonstra diagnósticos tardios e doenças avançadas, devido baixa especificidade dos sintomas e lesões semelhantes a doença perineal fistulizante.

A vigilância da doença perineal ativa e sintomas atípicos com exame proctológico sob anestesia e biópsias seriadas podem evitar diagnósticos tardios e melhorar as taxas de sobrevida

Área

Doenças Inflamatórias Intestinais

Autores

Natália Belló Maciel, Amanda Dias Ferrante Maia, Fernanda Conceição Lopes, Bruno Cezar Passos Santana, Leonardo Machado de Oliveira, Natasha Amaral Pacheco Chagas, Lucas Rodrigues Boarini, Idblan Carvalho Albuquerque